quinta-feira, 19 de abril de 2012

A Ilha


Sou da teoria de que tudo quanto é ex-namorada deveria, assim que se configurasse o término do relacionamento, tomar um bote chacoalhante até a ilha deserta mais próxima.
Por ilha deserta entenda-se um pedaço de terra, no meio do nada, cercado por bananas de dinamite por todos os lados.
Pense comigo se isso não seria uma dádiva na vida da sapatão comum.
Porque a sapatão comum está sentada no ônibus, cochilando, voltando de um dia igualmente comum de trabalho. Quando abre os olhos, percebe que existe uma mulher igualzinha à sua ex-namorada no banco da frente. Caso a ex-namorada tivesse rumado a uma ilha deserta, e caso tal ilha tivesse recém desaparecido do planeta por conta de uma explosão misteriosa, a referida semelhança não chegaria a ser perturbadora por tão longos minutos.
Desta maneira, a sapatão comum estaria livre para ocupar-se apenas de seus afazeres, e seguiria livre a sua vida, sem precisar se ver, vez ou outra, obcecada com o que vem aprontando, para onde está saindo, com quem anda flertando aquele ser maldito que lhe partiu o coraçãozinho.
* * *
Até que, considerando o perfil dos namoros fancha-com-fancha, a ideia da existência dessa ilha não parece assim tão fantasiosa.
Fanchas namoram por anos. Décadas. Bilênios. A paixão acaba, o amor desgasta, mas o medo da ilha está sempre latente, ali, segurando a relação.
Fanchas terminam e sempre voltam atrás em meia hora. Isso não é arrependimento; é o pavor de poder ser despachada para a ilha, a qualquer momento, pela metade mais magoada com o fim daquela história.
Fanchas sempre acabam se assemelhando fisicamente às suas namoradas. Pois, claro, se o relacionamento termina e a ex-namorada A contrata um bote chacoalhante que encaminhe a ex-namorada B para a ilha, vai que na hora do embarque a ex-namorada B consegue jogar a outra dentro? Quero ver quem nota a diferença entre quem foi e quem ficou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário